sábado, 21 de janeiro de 2012

Cicatrizando



Uma fratura exposta dói não só no dia em que se abre, mas cada vez que o vento decide trazer alguma poeira daquilo que com o corte se perdeu. A poeira pode ser pequena e causar pontadas de dor, ou grande, trazendo toda a sujeira de uma cidade, causando explosões. Pode-se passar álcool todo o final de semana para desinfetar, mas a proteção invisível evapora no dia seguinte, deixando a poeira entrar.

O que esquecemos é que a fratura só continua exposta por opção. Uma sutura é sempre possível e recomendada. A previsão da dor da agulha entrando na carne é o que nos paralisa. Costurar dói tanto quanto fraturar.

Seja por raiva, desespero ou puro masoquismo, um dia a coragem chega. E uma vez costurada, a porta se fecha para a poeira, a dor passa e dá lugar a coceira. Uma coceira que não grita como a dor, mas que sussurra constantemente ao pé do ouvido. Até que, um a um, os pontos começam a cair, por cada rasgo que um dia fez doer. Dando lugar a cicatriz, uma linha torta em um corpo, agora, fechado.

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