Descobri que posso inventar tudo novo, sem repetir o que já vivi. Estou espantada com a
capacidade de renovação que eu nem sabia que tinha. Tem um nome bobinho pra
isso, que não gosto, mas que dizem que é inspiração. Inspiração me lembra algo
muito brega, sempre imagino um pintor sentado num parque, numa paisagem
francesa, pintando um quadro sem graça, piegas.
Mas estou muito feliz e isso, claro, me assusta um pouco. Porque sou afobada,
ansiosa, minha vó dizia isso enquanto eu comia a massa do bolo antes de ele
entrar no forno. E depois ficava ali de guarda, olhando o bolo crescer. Como
aquilo demorava. Acabei de lembrar de outro episódio que mostra o quanto sou
ansiosa. Ganhei uma galinha de presente quando fui passar férias no sítio da
minha tia. A galinha estava chocando uns ovos e, segundo minha tia, os
pintinhos iriam nascer em pouco tempo. Mas quem disse que eu deixava a pobre
galinha chocar os ovos? Toda hora ia lá perto para ver e tirava ela do ninho.
Tá, eu era criança e crianças são meio abestalhadas de vez em quando.
A verdade é que não sei mais me comportar no modo de espera. Quero tudo pra
agora e já. Me vêm à cabeça todas os ditados, metáforas e provérbios próprios
para o momento. Devagar se vai ao longe. O apressado come cru (mas eu adoro
sushi). Quem espera sempre alcança. Vou respirar fundo e tentar conter meus
milhões de impulsos para não sair atropelando o tempo. Sei que isso assusta e
espanta. Mas só entenda que é uma vontade de viver muito e que há tempos eu não
sentia. É como a fome. A sede. Quando estão grandes, você só pensa na
saciedade.
Se puder entender isso, fico mais tranquila. Aí poderei voltar a ser quem
realmente sou. Nem tão normal, nem tão maluca. Mas o suficiente para deixar que
tudo aconteça no tempo certo. Seja lá o que isso quer dizer.
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