“Pentimento” é a palavra italiana para arrependimento, mas
designa (em muitas línguas) uma pintura, um desenho ou um esboço encoberto pela
versão final de um quadro.
Às vezes, com o passar do tempo, a tinta deixa transparecer
uma composição em cima da qual o artista pintou uma nova versão. Outras vezes,
os raios-x dos restauradores desvendam opções anteriores, que permaneceram
debaixo da obra final. Esses esboços ou pinturas, que o artista rejeitou e
encobriu, são os pentimentos, que foram descartados sem ser propriamente
apagados.
Visível ou não, o pentimento faz parte do quadro, assim
como fazem parte da nossa vida muitas tentações e muitos projetos dos quais
desistimos. São restos do passado que, escondidos e não apagados, transparecem
no presente, como potencialidades que não foram realizadas, mas que, mesmo
assim, integram a nossa história. Nossas vidas são abarrotadas de caminhos que deixamos de
pegar; são todos pentimentos.
Em geral, pensamos que nos faltou a coragem: não
soubemos renunciar às coisas das quais era necessário abdicar para que outras
escolhas tivessem uma chance. E é verdade que, quase sempre, desistimos de
desejos, paixões e sonhos porque custamos a aceitar que nada se realiza sem
perdas: por não querermos perder nada, acabamos perdendo tudo.
O problema dos pentimentos é que eles esvaziam a vida que
temos. O passado que não se realizou funciona como a miragem da felicidade que
teria sido possível se tivéssemos feito a escolha “certa”. Nem sempre os
pentimentos são bons conselheiros. Hoje, é fácil esbarrar em espectros do
passado: as redes sociais proporcionam reencontros improváveis e, com isso,
criam pentimentos artificiais.
Somos perigosamente nostálgicos de escolhas passadas
alternativas, que teriam nos levado a um presente diferente. Os pentimentos não são necessariamente
recíprocos, e os falsos pentimentos, revisitados, são pequenas receitas para o
desastre.
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