sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Free hugs


Todo presidiário tem dez minutinhos de sol, um recreio para banhar o rosto com a luminosidade da manhã. Já quem é livre talvez passe 24h longe de um pátio, desprovido de um mísero contato com a luz do dia. Talvez não abra a janela, sequer levante as persianas, para espiar o azul do horizonte e criticar a temperatura dos relógios da rua.

Quem é livre age com culpa. Encarna-se na profissão como um condenado, debruçado a atender os múltiplos sinais do celular, laptop, iPad. Sempre encontra um tempo para adiantar uma tarefa, mesmo que seja necessário abdicar do almoço, mas nunca abre frestas para se sentir no mundo. Suas frases mais comuns são que não tem escolha; precisa se sustentar; há muito a fazer.

Se fossemos samambaias, estaríamos mortos. Secos. Murchos. Até abraçar desaprendemos. Ninguém mais abraça com vontade. Odeio abraço falso. Abraço tem que ter pegada, jeito, curva. Aperto suave, que pode virar colo. É pelo abraço que testo o caráter do outro. Não confio em quem logo dá tapinhas nas costas. A rapidez dos toques indica a maldade da criatura. Não sou porta para bater.

Devemos fechar os olhos no abraço, respirar a roupa do abraçado, descobrir o perfume e a demora no banho. Requer cruzamento dos braços e uma demora do rosto no linho. Abraço é para atravessar o nosso corpo. Sou adepto a inventar abraços. Criar abraços. Inaugurar abraços. Realizar um dicionário de abraços. Um idioma de abraços. Abraço é confissão.

Dez minutinhos de sol e de liberdade.

Um comentário:

  1. Lindo! É isso mesmo! Abraço é entrega, é deixar um pouco da gente, pegar um pouco do outro, por empréstimo, e esquecer de devolver, levando pra vida afora, pra fazer companhia nas tortuosidades do dia, da jornada. Abraço é luz, é brisa, é libertação e laço que prende, sem aprisionar! =)

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