Todo presidiário tem dez minutinhos de sol, um recreio
para banhar o rosto com a luminosidade da manhã. Já quem é livre talvez passe
24h longe de um pátio, desprovido de um mísero contato com a luz do dia. Talvez
não abra a janela, sequer levante as persianas, para espiar o azul do horizonte
e criticar a temperatura dos relógios da rua.
Quem é livre age com culpa. Encarna-se na profissão como
um condenado, debruçado a atender os múltiplos sinais do celular, laptop, iPad.
Sempre encontra um tempo para adiantar uma tarefa, mesmo que seja necessário
abdicar do almoço, mas nunca abre frestas para se sentir no mundo. Suas frases
mais comuns são que não tem escolha; precisa se sustentar; há muito a fazer.
Se fossemos samambaias, estaríamos mortos. Secos.
Murchos. Até abraçar desaprendemos. Ninguém mais abraça com vontade. Odeio
abraço falso. Abraço tem que ter pegada, jeito, curva. Aperto suave, que pode
virar colo. É pelo abraço que testo o caráter do outro. Não confio em quem logo
dá tapinhas nas costas. A rapidez dos toques indica a maldade da criatura. Não
sou porta para bater.
Devemos fechar os olhos no abraço, respirar a roupa do
abraçado, descobrir o perfume e a demora no banho. Requer cruzamento dos
braços e uma demora do rosto no linho. Abraço é para atravessar o nosso corpo. Sou adepto a inventar abraços.
Criar abraços. Inaugurar abraços. Realizar um dicionário de abraços. Um idioma
de abraços. Abraço é confissão.
Dez minutinhos de sol e de liberdade.
Lindo! É isso mesmo! Abraço é entrega, é deixar um pouco da gente, pegar um pouco do outro, por empréstimo, e esquecer de devolver, levando pra vida afora, pra fazer companhia nas tortuosidades do dia, da jornada. Abraço é luz, é brisa, é libertação e laço que prende, sem aprisionar! =)
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