quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

No enquanto



O  amor é um destes lugares da imaginação em que recriamos a ilusão de não estarmos sós. Não falo da relação concreta que envolve o amor, com suas grandes maravilhas e seus pequenos desastres (ou, às vezes, pequenas maravilhas e grandes desastres). Falo do sentimento que nunca pode ser inteiramente expressado porque é de uma riqueza inacessível para o outro. O amor é um daqueles lugares do indizível, porque não há palavra, imagem ou gesto suficientemente preciso para representá-lo. Não há vocabulário ou acervo capaz de fazer o outro compreender o quanto de amor há ali. É por isso que repetimos tanto e de tantos modos diversos, tentando cercar o outro de uma soma constante do nosso amor.

No entanto, por mais que exista um outro a quem amar, e que ele seja merecedor do nosso cuidado e do nosso tempo, a maior façanha do amor é esta ondulação interna que ele provoca. Esta sensação de estar pleno de sentimentos fortes, intensos, reais. A sensação de estar vivendo. Na expressão do amor, podemos ser mais ou menos generosos, mais ou menos dedicados, mais ou menos criativos. Não importa. O que importa é esta qualidade que nos conferimos ao amar alguém. Quando digo “você é especial” – por palavras, gestos ou olhares silenciosos -, estou dizendo “você é especial para mim, sou eu que te faço assim”.

As relações raramente acabam junto com o amor que sentimos. Acabam antes, acabam depois.  Quando uma relação acaba, sofremos porque temos que enfrentar um processo longo de reacomodação. Mas o que nos deixa perplexos, de fato, é quando percebemos que o amor que sentíamos acabou. Quando olhamos uma pessoa e buscamos acessar aqueles velhos arquivos que nos faziam vivos pelo simples fato de estarmos os dois ali. Não reconhecemos mais os conteúdos desses arquivos, eles agora parecem inadequados. Não acompanhamos mais o andar singular daquela pessoa pelo corredor, ou entre as mesas de um restaurante, porque já não importa muito vê-la caminhar e importa menos ainda saber para quem ela está olhando. É neste momento que percebemos que algo do nosso interior já não está mais lá, onde costumava ficar.

Neste momento, de uma estranha epifania, você finalmente sabe que o único mundo em que você pode navegar é o de suas emoções. Você pode se guiar por metas, objetivos e planos. Mas são as emoções que te fazem vivo. Ao final o amor é esta capacidade interna de se sentir único. Você quer ser vital, necessário, quer fazer a diferença (para alguém). O que você ama, em suma, é aquilo no qual você se torna enquanto ama.

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