Eu disse que não sabia o que fazer. Sentei na escada de
costas para o vento, deixando a franja cobrir meus olhos. Eu realmente não
sabia o que fazer. Eu queria falar, mas não tinha mais o que dizer - ou tinha
medo.
Olhei para o chão, cheio de terra, cheio de marcas de pés.
Fiquei olhando. Olhei até que nada mais consegui ver. Tentei levantar, mas
tinha esquecido como, então continuei do jeito que estava, com os cabelos na
cara sem enxergar. Continuei do jeito que estava até que ele se irritou comigo.
Irritou-se com a minha preguiça, com a minha falta de vontade.
Ele me mandou sair dali, mas eu não queria, eu não sabia para onde ir. Ele
continuou falando, mas eu não conseguia mais ouvir - ou eu não queria.
Eu vi a luz da rua acender. Nem vi quando o céu apagou. Ele deve ter visto, mas
eu não vi.
A escada é de todo mundo, não sei porque ele me manda sair.
Não tenho mais paciência para perguntar - ou talvez me falte a voz - e ele
também não se incomoda em me explicar. Eu continuo sem saber, e continuo ali.
O frio começa a me incomodar, ele está de casaco e se recusa a me emprestar,
talvez eu devesse mesmo sair dali. Ele acha que saí porque ele mandou, tentei
dizer que foi o frio, mas ele não acreditou - ou não me ouviu.
Saí. Logo depois quis voltar, mas não me lembrava como e ele não quis me
ensinar. E foi embora. Foi embora sem me ajudar.
Fiquei sozinha, agora de frente para o vento, com os
cabelos voando e as bochechas rosadas pelo frio. Queria que alguém estivesse
ali, mas não sabia quem chamar - ou esqueci. Então fiquei ali, esperando alguém
passar. E continuo esperando. Estou cansada de esperar.
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