Não se pode se separar em
dezembro. Deveria ser proibido por lei. Constar na Constituição. Tem o
Natal, o Ano-Novo e as crianças. Há as festas intermináveis em
família. Quem será idiota de pedir o divórcio em dezembro, logo quando
encontrará todos os parentes? Contou com o ano inteiro para a ruptura e
escolheu a pior data. Dará satisfações a cada vez que se servir na mesa?
Que mesa? Não será chamado para festa alguma porque será sinônimo de agouro e
tristeza. Um gambá espiritual. Um guaxinim de estrada. Um fede-fede dos
pinheiros. Não será convidado, é agora o principal motivo de fofoca. O
pêssego do pernil.
Entre sua cara de choro e a
fofoca, os familiares ficarão com a fofoca. Falar mal de você pelas costas é
agradável, mais atraente do que acompanhar a missa do Vaticano na tevê. A
maldade não termina, não sofre oposição. Seu sofrimento não combinará com as
ruas lotadas, a algazarra das piscinas, o papai-noel das lojas chantageando sua
infância. É um fracassado, desorientado, sem casa para voltar,
regressando ao seu antigo domicílio em horário de expediente para brincar com
as crianças e dizer que tudo bem, a confusão vai passar, nada mudou.
Desperdiçou o grave e inadiável
instante de aproveitar o 13º salário, pensar nos presentes e escondê-los no
armário, arrumar a ceia, participar de amigo-secreto, mandar postais, comprar
roupas. As coisas boas e deliciosas da intimidade. Não é o momento de
brigar, discutir e encontrar um culpado dentro de você. Enterre seu amor
e confesse em março. Mas não consegue mentir. Por que ao menos não
esperou janeiro e fevereiro, onde a maioria dos conhecidos está na
praia? Não, tem razão, daí estragaria as férias.
Mas gente normal não incomoda,
não conversa sério, não se machuca no período. Desista, o mês é curto,
acaba em 24 de dezembro. Não há como comprar apartamento, mobiliar o espaço,
arranjar um fiador. Muito menos o eletricista terá disponibilidade, o mesmo
ouvirá do marceneiro para desmontar e montar as estantes. Não vislumbrará os
homens do frete nas praças. Pretende desabafar e procurar tratamento.
Pretende explicar que a separação é parto natural, que não é uma cesárea, para
escolher o signo da criança e a data do nascimento. Esqueça também, acha que
encontrará algum psicólogo com agenda? Estarão em festa com a família,
onde deveria estar, seu idiota!, se não inventasse de destruir o Natal dos
outros.
Ninguém deseja ser infeliz em
dezembro. Seu insensível, como pode arrancar da tomada as luzinhas da
árvore?
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