quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Pombos Vs. Predador

Estava atravessando a rua, no Centro, quando notei que dois pombos disputavam a chegada até a calçada comigo. Fui recuando, já naquela posição de proteção, com as mãos esticadas no ar, como se eles fossem voar a qualquer segundo em minha direção. Tenho pavor das finas que os pombos tiram da gente. Eles nunca voam em nossa direção. Normalmente fogem da gente. Os pombos não voam mais. Agora eles correm como galinhas.

Já perceberam que raramente um ser humano está interessado em lhes amassar a cabeça. Portanto, não precisam mais bater asas. Economizam energia.

Houve um tempo em que as pessoas viajavam pro estrangeiro e não deixavam faltar no álbum uma foto com pombos espalhados pelo corpo. Os bichos faziam parte de um cenário romântico. Hoje são como meninos de rua, caçadores de migalhas. Se eles chegam muito perto, a gente espanta. Se eles entram num shopping, a gente pede pro segurança tomar uma atitude.

Essa ave de origem asiática, que convive há mais de 10 mil anos com o homem, ocupa hoje o quarto lugar em números de chamadas para combate a pragas da Divisão de Controle de Animais Sinantrópicos (aqueles que vivem próximos aos humanos e prejudicam-nos de alguma maneira). Só perdem para ratos, escorpiões e pulgas.

Entraram para a categoria de pragas miseráveis, sem qualquer glamour. São considerados transmissores de doenças e já perderam o título de símbolo da paz há muito tempo. Em Veneza, por exemplo, repelentes específicos e sistema de eletrificação nos monumentos e prédios evitam a aproximação da espécie.

Ao contrário do que muita gente pensa, a abundância de alimentos não é a principal causa da proliferação da ave nas cidades e seu consequente rebaixamento à condição de peste urbana. Segundo a bióloga Mônica Schüller, que estuda o comportamento dos pombos em São Paulo, uma espécie – animal ou vegetal – passa a ser uma praga quando o número de animais que se alimentam dessa espécie diminui, permitindo sua proliferação exagerada.

"Longe de riscos, a espécie encontra condições de se reproduzir descontroladamente, tornando-se uma praga”, explica. Como uma série de outros animais, incluindo nós, os bípedes evoluídos, eles constroem ninhos em qualquer canto e se reproduzem quase que infinitamente.

Vamos pelo mesmo caminho. Produzimos e comemos lixo, invadimos e devastamos todos os campos, brigamos por um pedaço de terra, sonhamos com um canto para construir nosso ninho, nos multiplicamos de forma descontrolada e nos aglomeramos em grandes centros, onde as migalhas parecem ser mais abundantes.

Enfim, somos uma puta de uma praga.

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