domingo, 13 de novembro de 2011

Toca baixo.

Seria pretensão da minha parte dizer que não faço parte desta manada desenfreada e cheia de freios. A minha volta, mulheres teoricamente felizes, mães, esposas independentes, com seus cardápios da semana colados na geladeira, com os horários de todas as atividades das crianças em dia, com as viagens de férias planejadas, com suas babás de branco, com os presentes do próximo amigo oculto devidamente comprados e com presença confirmada em todas as festinhas de crianças. A massa segue, como um rolo compressor, achatando, tornando chato, tudo aquilo que encontra pela frente.
Donos de um nada que é tudo pra eles e de um medo de perder um poder que desconheço. Olho aquilo tudo e penso: Eles trepam. Eles fazem bebês com nomes da moda. Eles não usam drogas. Eles se suportam bem. Eles doam brinquedos para orfanatos. E violência, na cabeça deles, é ter o carro roubado.
Em silêncio, penso: Estou matando tempo. O tempo está me matando. Estou cercada de gente que não tem nada a ver comigo. É isso. Sou eu que estou no lugar errado. Preciso rir e sair daqui. Preciso encontrar aquele músico que parecia conhecer todo o meu corpo. Quantas vezes já suspirei em reuniões, incluindo as de pauta, por estar com a cabeça lá, naquela noite fria, quando encontrei um cara que deveria se chamar quem diria. Intenso e suave. Mãos fortes e um encaixe absurdo e exaustivo. Poucas palavras, muita informação. Dedos que pareciam varas de condão. O cara toca baixo, os músicos são mágicos. Baixo e bateria sempre em sintonia.
Talvez meu mundo fosse melhor ou mais fácil se eu deixasse de ser tão contestadora. Se eu buscasse um caminho menos árduo e me entregasse ao mundo mágico do Mickey Mouse ao invés de me apaixonar pelo Mickey Knox [personagem Woody Harrelson em Natural Born Killers]. Não foi uma escolha. Desde a infância, meu príncipe encantado, escrachado e, de bolso furado, era de massinha e tomava milhares de formas. Já me casei com meu professor de natação, com o John Malkovich, com o Roger Federer e até com o Lemmy Killmister.
Eu não quero carros. Não quero o controle nem as marchas. Não quero a sorte de um amor tranquilo. Amores inquietos são mais produtivos. Quero aquele sexo que dá barato. Quero um cara que me toque baixo.

Um comentário: