Não, nós não temos nada. Não somos nada um do outro. Semana passada vimos um filme péssimo, um dos piores que eu já vi e a minha vontade no cinema
era de deitar a cabeça no seu ombro e viver. Se passassem dois anos, eu não
notaria. Não chegamos
a sair de mãos dadas do cinema, não temos esse hábito. Nos esbarramos várias
vezes, nossos braços se batem de uma forma que se fosse em qualquer outra
pessoa, me incomodaria muito. Mas não em você. Você adora.
Nós não somos nada,
então não nos beijamos em público o tempo todo, só às vezes. Fomos tomar
sorvete e você estava sem barba, nessas horas eu penso que se
nós fossemos alguma coisa, eu nunca deixaria que você tirasse a barba, mas não
posso dizer mais, senão vou ter que revelar que acho você incrivelmente lindo do
outro jeito e eu não quero – ou não posso – me entregar assim.
Quando você
disse que gostava de mim – bastante – a primeira coisa que eu senti foi
verdade, mas logo veio um medo. Você diz coisas que não fazem o menor sentido e
discute assuntos que eu não quero nem ouvir e então eu dou graças a deus por
nós não sermos nada. É tão mais fácil. Mas aí acontece de eu não querer dormir
sozinha de jeito nenhum e pensar em ligar pra você. Uma parte de mim, confesso,
preferia que você não atendesse, mas você atende e vem até aqui e nós
assistimos ao nosso preferido juntos. Rimos alto e nos olhamos, procurando a
alegria compartilhada. E ela está ali, no sofá, esparramada, à vontade. Meu
relógio anda em pulos e só durmo quando amanhece. Interrompo raciocínios com
beijos afogados e desesperados e pausados e pesados e saudosos.
Estou cheia de nada, enquanto me preparo para o vazio de amanhã.
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