Tem dias em que penso que preciso mesmo é de um barco.
Quando era criança, costumava me sentar na beira do mar
com meu tio e jogar pedras nas águas paradas. Costumava comprar um picolé de
morango e um suco sem açúcar, com gelo.
Mais tarde, a vida me afastou do mar e do meu tio, e eu
fui boiando por aí. Mas nada parecido com o boiar tranquilo de quem se deita
com a barriga para cima, olhos fechados, sorriso tranquilo. Era mais um boiar
pré-afogamento, apenas a cabeça fora d’água, braços e pernas se sacudindo para
evitar os golpes de mar no rosto.
Tem dias em que penso em trocar tudo por um barco.
No meu boiar atrapalhado consegui juntar uma série de
coisas: inseguranças, mágoas, traumas. Consegui também juntar dinheiro. Pouco
dinheiro. Mas o suficiente para um barco. Para algum barco.
Comprei um barco. Algum barco. Mas o mar não era mais o
mesmo. As águas não estavam mais paradas, as pedras não gostavam mais de quicar
e desenhar círculos perfeitos. Ninguém mais me vendia picolés de morango.
Ninguém mais me pedia sucos sem açúcar, com gelo.
Pensei então em pular do barco. Dos barcos. Dos dois. No
meio do mar que não é mais parado.
E isso seria, talvez, a primeira remada de minha vida. A
primeira e a última.
Tem dias em que penso que tenho é barcos demais.
Quebre um barco e use seus pedaços como remo, ou reme com as mãos, porque pular dos barcos só vai fazer voltar a desejá-los.
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