segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A peça


Não só hoje, mas desde sempre, o mundo tem sido uma peça incrível, mas muito mal produzida. As maquiagens são ruins, é aparente. Os atores raramente sabem seus diálogos, suas marcações de cena ou como contracenar apropriadamente com os demais. Os diretores estão perdidos, não sabem o que fazer com tanta gente ou como usar os cenários da forma mais apropriada. Os assistentes de palco só fazem correr de um lado pro outro, tantas e tão diversas são as ordens que recebem, e os figurantes só ficam parados no meio do caminho, nunca sabendo se devem fingir que estão conversando tranquilamente ou se na realidade estão no meio de uma cena de ação. A orquestra não consegue se harmonizar, visto que o maestro está constantemente em busca das partituras, e os dançarinos dançam cada um a sua própria dança absurda, rodopiando em torno de seus próprios umbigos.

As cortinas fecham e as cortinas abrem sem motivos aparentes. E até aqueles que decidem ser só os espectadores, que pagam, com a própria cara, pra ver, estão todos um tanto robóticos, insensíveis, e um quê catatônicos com tanta coisa que acontece ao mesmo tempo, e alguns até mesmo envergonhados com a bagunça que ofende da pior forma possível a grandeza e a beleza do roteiro (que, aliás, ninguém sabe ao certo onde foi parar). Alguns tentam rezar pela ordem, gerando um crescente burburinho na platéia, e os que estão tentando dormir para fazer passar o tempo reclamam. Outros estão desesperados para subir no palco, estapear os atores e desempenhar seus papéis no lugar deles, mas simplesmente não podem. Os mais ambiciosos querem ser diretores e querem ser escritores, mas não podem competir com a arrogância e a impassibilidade dos atuais.

Lá fora, também, há um ensaio de caos. As pessoas que chegaram atrasadas e não puderam entrar compram briga com os desistentes, que vão saindo com olheiras fundas. E há os transeuntes, é claro, os que nunca sequer tiveram a intenção de entrar no teatro. Ou porque acham desnecessário ou porque acham caro demais. Esses andam tranquilos, sem motivos nem necessidade de motivos. Simplesmente em paz.

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