Não só hoje, mas desde sempre, o mundo tem sido uma peça
incrível, mas muito mal produzida. As maquiagens são ruins, é aparente. Os
atores raramente sabem seus diálogos, suas marcações de cena ou como
contracenar apropriadamente com os demais. Os diretores estão perdidos, não
sabem o que fazer com tanta gente ou como usar os cenários da forma mais
apropriada. Os assistentes de palco só fazem correr de um lado pro outro,
tantas e tão diversas são as ordens que recebem, e os figurantes só ficam
parados no meio do caminho, nunca sabendo se devem fingir que estão conversando
tranquilamente ou se na realidade estão no meio de uma cena de ação. A
orquestra não consegue se harmonizar, visto que o maestro está constantemente
em busca das partituras, e os dançarinos dançam cada um a sua própria dança
absurda, rodopiando em torno de seus próprios umbigos.
As cortinas fecham e as
cortinas abrem sem motivos aparentes. E até aqueles que decidem ser só os
espectadores, que pagam, com a própria cara, pra ver, estão todos um tanto
robóticos, insensíveis, e um quê catatônicos com tanta coisa que acontece ao
mesmo tempo, e alguns até mesmo envergonhados com a bagunça que ofende da pior
forma possível a grandeza e a beleza do roteiro (que, aliás, ninguém sabe ao
certo onde foi parar). Alguns tentam rezar pela ordem, gerando um crescente
burburinho na platéia, e os que estão tentando dormir para fazer passar o tempo
reclamam. Outros estão desesperados para subir no palco, estapear os atores e
desempenhar seus papéis no lugar deles, mas simplesmente não podem. Os mais
ambiciosos querem ser diretores e querem ser escritores, mas não podem competir
com a arrogância e a impassibilidade dos atuais.
Lá fora, também, há um ensaio
de caos. As pessoas que chegaram atrasadas e não puderam entrar compram briga
com os desistentes, que vão saindo com olheiras fundas. E há os transeuntes, é
claro, os que nunca sequer tiveram a intenção de entrar no teatro. Ou porque
acham desnecessário ou porque acham caro demais. Esses andam tranquilos, sem motivos
nem necessidade de motivos. Simplesmente em paz.
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