quarta-feira, 13 de abril de 2011

Estagnação.

Uma vez, e essa história é bem velha, eu estava esperando o ônibus e um mendigo se aproximou de mim. Ele se sentou no canto direito do cano do ponto, bem ao meu lado. Olhou fixamente para o meu tênis e me perguntou: - Você prefere algo superior ou nada? Por algum motivo eu não fiquei com medo. Eu não costumo ter medo de estranhos, muito menos dos que se encontram em estado deplorável. - Algo superior. Quem não quer algo melhor sempre? Ele olhou para o lado oposto, como se estivesse fugindo de alguém e retornou o olhar para o meu rosto. - Eu prefiro nada. Reparei na cicatriz de aproximadamente 12 centímetros que ele carregava em sua cabeça raspada. Eu mudo de opinião muito facilmente: - Às vezes nada pode ser bom. Ele, sob seus trapos, mesmo contradizendo sua preferência, com um tom de voz firme e sem arrependimentos, como se estivesse dando um aviso, não me pareceu mudar de opinião. - Não. Nada não é bom. Ele não era velho nem novo. Não estava drogado nem careta. Não era alto nem baixo. Não fedia e tinha olhos bonitos; Olhei fixamente pra eles e não soube o que dizer. Meu ônibus chegou. Ele disse que se tivesse um caderno lá agora, escreveria algo comigo. Mas eu tive que ir embora. É desse tipo de profundidade que eu estou falando.

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