Uma vez, e essa história é bem velha, eu estava esperando o ônibus e um mendigo se aproximou de mim.
Ele se sentou no canto direito do cano do ponto, bem ao meu lado. Olhou fixamente para o meu tênis e me perguntou:
- Você prefere algo superior ou nada?
Por algum motivo eu não fiquei com medo.
Eu não costumo ter medo de estranhos, muito menos dos que se encontram em estado deplorável.
- Algo superior. Quem não quer algo melhor sempre?
Ele olhou para o lado oposto, como se estivesse fugindo de alguém e retornou o olhar para o meu rosto.
- Eu prefiro nada.
Reparei na cicatriz de aproximadamente 12 centímetros que ele carregava em sua cabeça raspada. Eu mudo de opinião muito facilmente:
- Às vezes nada pode ser bom.
Ele, sob seus trapos, mesmo contradizendo sua preferência, com um tom de voz firme e sem arrependimentos, como se estivesse dando um aviso, não me pareceu mudar de opinião.
- Não. Nada não é bom.
Ele não era velho nem novo. Não estava drogado nem careta. Não era alto nem baixo. Não fedia e tinha olhos bonitos; Olhei fixamente pra eles e não soube o que dizer. Meu ônibus chegou.
Ele disse que se tivesse um caderno lá agora, escreveria algo comigo. Mas eu tive que ir embora.
É desse tipo de profundidade que eu estou falando.
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